terça-feira, 15 de novembro de 2016

Matéria de superação sobre nosso amigo Alexandre

Parte de sua história declarada ao PORTAL NEWS




Uma motocicleta, uma cadeira e uma vida sobre sete rodas

Há 5 anos, a vida de Alexandre Rozendo mudou radicalmente; hoje, vivendo independente, ele superou episódio

Era uma quarta-feira ensolarada, quando um motoqueiro passa na rua Dr. Prudente de Moraes, no Jardim Natal, em Suzano, e chama a atenção dos motoristas. É que em tempos de preguiça para ir a pé até a padaria na esquina, surpreende alguém que tem força de vontade suficiente para pilotar uma moto sendo tetraplégico. Pois Alexandre Rozendo dos Santos, de 44 anos, não só foi perseverante, após sofrer uma lesão medular, como até hoje é otimista, tendo como sonho "ajudar o Brasil de alguma forma, propiciando incentivo, oportunidade e acessibilidade aos deficientes, porque dois centímetros em uma guia, para um cadeirante, é como se fosse uma parede". 

Localizado pela reportagem em um condomínio de Suzano, Santos conta que ficou tetraplégico cinco anos atrás, quando sofreu uma agressão na saída de uma choperia no município de Pompeia, no interior de São Paulo, onde visitava familiares. "Foi em 8 de agosto de 2011. Lembro apenas que conversava com uma moça, ela fez uma ligação e, horas depois, acordei com o rosto no chão, jogado em um parque de areia. Me disseram que foi um homem que fez isso; roubaram meu relógio e carteira. Trituraram minha quinta vértebra, não se sabe como e nem se usaram algum tipo de instrumento. Quase morri. Só estou aqui por causa do impossível".

Santos contou que, ao ser socorrido, devido aos poucos recursos na cidade, um funcionário da prefeitura o colocou em uma maca e não havia nem colar cervical, mas que foi devido a essa pessoa que ele está vivo. "Fui levado para a Santa Casa e, de lá, para o hospital de Marília. Tiraram uma radiografia e viram que eu precisaria fazer uma cirurgia, mas, segundo os médicos, eu tinha 99% de chances de morrer, então, só passei pelo procedimento cirúrgico depois de muita conversa com a equipe médica e minha família. Porém, os médicos deixaram claro que eu nunca mais iria andar".

Os dias que se seguiram foram bastante desafiadores para Santos, pois ele foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), contraiu infecção e precisou usar colar cervical durante quatro meses, quando foi diagnosticado que estava tetraplégico completo, perdendo todos os movimentos do pescoço para baixo. "Essa foi a pior fase, porque eu tinha noção e via tudo, falava pelos cotovelos. Mas tinha ficado totalmente dependente e sempre fui muito ativo. Já andava de moto, inclusive, e os médicos disseram que eu nunca mais ia poder fazer isso. Mas um enfermeiro me deu um conselho, que achei bastante válido e procurei seguir".

Exercício mental fez a diferença na recuperação

A recomendação do enfermeiro era para que Alexandre Rozendo dos Santos fechasse os olhos e se concentrasse, imaginando que tinha movimentos nas pernas, mãos e braços

Aos poucos e com persistência, ele começou a notar pequenos espasmos involuntários e foi onde percebeu que não tinha uma "sentença definitiva" decretada.

Hoje, Santos mora sozinho, cozinha, limpa a casa, recebe os amigos em seu apartamento e faz compras ou passeia com sua moto Suzuki Scooter Burgman, adaptada como triciclo, com suporte para a cadeira de rodas e fabricada no Guarujá. Com alguns movimentos recuperados, com auxílio de fisioterapia, ele sai da cadeira de rodas e monta na moto, além de praticar esportes, como tênis de mesa, em Mogi das Cruzes, e aeromodelismo, outra de suas paixões. "Sempre tive uma vida muito ativa e trabalhei como segurança durante muitos anos. Desde o primeiro momento em que eu abri os olhos no hospital, só tive a agradecer. Não desejo isso nem para quem me deixou assim, porque eu teria que ser uma pessoa muito ruim para querer o mesmo para ele", argumentou.

Para Santos, o impossível é, de fato, uma questão de opinião. "A moto era um sonho e o triciclo é a minha vida, pois me dá a sensação de liberdade. Já o aeromodelismo é um hobby, uma terapia. Também construí um protótipo de drone, tenho uma coleção de carrinhos de controle remoto e gosto de fazer vídeos de aeromodelismo. Participo de um grupo e vamos aos finais de semana a um parque colocar nossos aviões no ar".

Atualmente aposentado, ele comenta: "Às vezes fico parado, mas estou em paz comigo mesmo. Tem gente que para e fica depressiva. Acho que o segredo é manter uma vida dinâmica, com a mente boa. E eu acredito em milagres, por conta de tudo o que me aconteceu. Creio no poder da cura através da fé", diz ele, que não frequenta nenhuma religião específica.

Por fim, Santos afirma que há outra providência necessária à vida e que esta é bem simples. "Sorrir. Porque seria bom se as pessoas soubessem o quanto vale um sorriso. É um bem para tudo, mesmo que as dificuldades sejam grandes. Então, nunca desista". (C.I.)